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Golpedono da galera betcâmera lenta é a onda do século XXI
"Os golpesdono da galera betEstadodono da galera betestilo clássico, com tanques nas ruas, deixaramdono da galera betintegrar o roteiro das iniciativas anti-democráticas", observa Paulo Moreira Leite
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1 - Como entender a conexão que aproxima o golpe contra Dilma e a impunidade que mantém Jair Bolsonaro fora da cadeia
Por razões que se pretende debater nos parágrafos seguintes, há uma velha novidade na cena política deste século XXI.
Como observa o colunista Mark Danner, há meses o planeta acompanha a campanha presidencialdono da galera bet2024, na qual Donald Trump se mobiliza para levardono da galera betfrente um projetodono da galera bet"golpedono da galera betcâmera lenta, que acompanhadono da galera betcarreira desde o início, quando se mostrou capazdono da galera betdeslegitimar o sistema político para quase metade da população". (The New York Review of Books, 5/10/2023).
Para Danner, qualquer que venha a ser o destinodono da galera betTrump, "na Casa Branca ou numa celadono da galera betpenitenciária, a destruição da confiança do paísdono da galera betsuas instituições irá permanecer como a herança tóxica do trumpismo".
Conceito cada vez mais presente nas publicações que são referência internacional, o assunto tem relevância óbvia na América do Sul, essa região na qual, com ou sem câmera lenta, os golpesdono da galera betEstado são uma realidade dramática e ameaçadora desde o nascimento da República.
Em seu último livro publicado, o professor Wanderley Guilherme dos Santos (1935-2019), um dos mais relevantes intérpretes do sistema político brasileiro, registrou o fenômeno.
2 - "Não havia uma ditadura declarada, afinaldono da galera betcontas o presidente havia assumindo legalmente o país", diz historiador sobre golpe no Uruguai
Um dos marcos deste processo é mais antigo do que se pensa. Trata-se do regime nascido no Uruguai durante o governodono da galera betJorge Pacheco Areco, vice que assumiu a presidência após a morte repentina do titular,dono da galera betdezembrodono da galera bet1967.
Entre dois vizinhos maiores pela geografia, pela população e pelo PIB, que já se encaminhavam para a formaçãodono da galera betditadurasdono da galera betlonga duração, instituídas pelo velho aparatodono da galera betguerra apontado contra um povo transformadodono da galera betinimigo doméstico, o governo Areco não demorou a mostrar seus planosdono da galera betconstruir uma ditadura num processo lento e gradual.
"As medidas adotadas por Areco assemelhavam-se àsdono da galera betum país ditatorial," descreve o historiador José Rodrigodono da galera betAraújo Silva, no artigo “Golpedono da galera betCâmera Lenta: Estadodono da galera betSítio e o Cinema Políticodono da galera betCosta Gravas”, onde se valedono da galera betuma obra-prima do cinema político mundial - o filme “Estadodono da galera betSítio” -- para debater uma novidade da Ciência Política.
"Não havia uma ditadura declarada, afinaldono da galera betcontas o presidente havia assumido legalmente o país. Contudo, os meios utilizados para manter a ordem foram próximos aos meios que países como o Brasil utilizaram para legitimar o estadodono da galera betexceção", acrescenta o professor, referindo-se ao período Médici da ditadura militar.
Num instrumento incompatível com qualquer ordenamento democrático, o governo uruguaio decretou as Medidas Prontasdono da galera betSeguridad, equivalentes locais dos Atos Institucionais da ditadura brasileira. Lá como aqui, eram instrumentosdono da galera betmúltiplas utilidades, fosse para determinar um quadrodono da galera betarrocho salarial ou para instituir um ambientedono da galera betferoz repressão sobre o movimento operário e sobre a luta estudantil.
"Com essas e outras medidas, o estadodono da galera betterror passou a fazer parte do cotidiano da população," explica Araújo Silva, deixando claro que o país caminhou para uma metamorfose interna, capazdono da galera betsubmeter a sociedade uruguaia a uma ditadura especialmente feroz, impensável numa nação habituada a ser classificada como a "Suíça sul-americana",dono da galera betfunçãodono da galera betuma estabilidade política sem comparação com os vizinhos.
3 - Uma nova mudança gigantesca no plano mundial iria ocorrer décadas mais tarde, na abertura do período histórico contemporâneo. Sua raiz se encontra na reação norte-americana aos atentadosdono da galera bet11dono da galera betsetembrodono da galera bet2001.
Numa resposta que definiu os traços principais da nova conjuntura mundial dos diasdono da galera bethoje, pelo emprego da totalidade dos instrumentos políticos, militares e econômicos abrigadosdono da galera betseu arsenal imperial para pressionar China e Rússia ao mesmo tempo, Washington desenhou uma nova divisãodono da galera betpoder e riqueza no planeta.
Mostrou que os demais governos até podiam não gostardono da galera betsubmeter-se a seu domínio, mas "teriam imensas dificuldades para escapardono da galera betsua influência", como observa Paul Krugman, Prêmio Nobeldono da galera betEconomia,dono da galera betartigo intitulado "Caminho norte-americano para a Guerra Econômica", publicado na revista Foreign Affairs (edição janeiro-fevereiro 2024).
Aquele situação hoje chamadadono da galera bethiperglobalização, para diferenciar mudançasdono da galera betpatamar ocorridas ao longodono da galera betum processo -dono da galera betséculos - trouxe consequências impensáveis para o destinodono da galera bethomens e mulheresdono da galera bettodo o planeta, na União Europeia e no Brasil, na Rússia, na China, nos EUA e na África.
Sem desprezar a narrativa convencional sobre as origens da hegemonia econômica dos Estados Unidos sobre os destinos do planeta, Henry Farrell e Abrahamn Newman apontam para emergência, nas décadas finais do século XX,dono da galera betum fatordono da galera betoutra natureza,dono da galera betvalor estratégico impensável até há pouco.
Trata-se do controle sobre o sistema mundialdono da galera betcabos e mensagensdono da galera betfibras óticasdono da galera bettodo o planeta, que atravessam o território norte-americano, onde são gravados e enviados para exame nos serviçosdono da galera betinformação e segurança nacional, num processo que permite investigar projetos que ameaçam interesses norte-americanos e encaminhar sanções correspondentesdono da galera betresposta.
Paul Krugman vai além e esclarece: "aonde quer que os cabos aterrisem, Washington monitora seu trajeto -- basicamente fazendo um registrodono da galera bettodo o conjuntodono da galera betdados que permite ao Conselhodono da galera betSegurança Nacional examinar os dados. Assim, os Estados Unidos podem facilmente espionar tudo aquilo que outras empresas, e outros países, estão fazendo. Isso pode definir quando seus competidores ameaçam seus interesses e definir sanções significativasdono da galera betresposta".
"Para proteger interesses dos Estados Unidos, lentamente Washington transformou redesdono da galera beteconomiadono da galera betinstrumentosdono da galera betdominação," escrevem Henry Farrel e Abraham Newman.
